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quarta-feira, 13 de março de 2013

O Estatuto do Homem - Thiago de Mello


Os Estatutos do Homem 
(Ato Institucional Permanente) 
Thiago de Mello
ARTIGO I 
Fica decretado que agora vale a verdade. Agora vale a vida, e de mãos dadas, marcharemos todos pela vida verdadeira.
ARTIGO II 
Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
ARTIGO III 
Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança.
ARTIGO IV 
Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu.
Parágrafo único:
O homem, confiará no homem como um menino confia em outro menino.
ARTIGO V 
Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.
ARTIGO VI 
Fica estabelecida, durante dez séculos, a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
ARTIGO VII 
Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça e da claridade, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.
ARTIGO VIII 
Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor.
ARTIGO IX 
Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura.
ARTIGO X 
Fica permitido a qualquer pessoa, qualquer hora da vida, uso do traje branco.
ARTIGO XI 
Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã.
ARTIGO XII
Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida: amar sem amor.
ARTIGO XIII 
Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou.
ARTIGO FINAL 
Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem.

Santiago do Chile, abril de 1964

 Thiago de Mello e Fernanda de Almeida Prado
Casa das Rosas


Uma quota de beleza... 

(Para Fernanda Maria e Thiago de Mello, distribuidores de beleza) 

A cada um, a quota de beleza
Que, só por ser humano, lhe é devida;
A cada um, o fruto sobre a mesa
E a liberdade, condição da vida. 

O pão, que ele merece, a alegria
Desse estágio terrestre, fascinante,
O trabalho eficaz, no dia a dia,
E a instigante surpresa do instante.

Para isso fomos feitos e criados
Para o brilho, sem par, da forma humana.
E, com o leite de amor, ser aleitados.

Nesse misto de sonhos e de lama;
De uma terrestre poeira suscitados,
E, de centelhas da divina chama...

Antônio Lázaro De Almeida Prado

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